sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O coronel e o lobisomem


 

 LITERATURA

O Coronel e o Lobisomem

Memórias de um personagem caricato, livro de José Cândido de Carvalho tornou-se singular no regionalismo pelo humor e uso da linguagem popular

Patrícia Pillar
Patrícia Pillar no episódio "O Coronel e o Lobisomen", da Rede Globo.

Quando em 1964 se publicou O Coronel e o Lobisomem, de José Cândido de Carvalho, o autor recebeu imediatamente a aprovação dos círculos da crítica e dos leitores. Havia sem dúvida algo de novo nesse romance, onde se percebia, ao menos, um humor cheio de viço. O narrador, em primeira pessoa, conta com fluência e inusitadas descrições a sua história: "A bem dizer, sou Ponciano de Azeredo Furtado, coronel de patente, do que tenho honra e faço alarde. Herdei do meu avô Simeão terras de muitas medidas, gado do mais gordo, pasto do mais fino. Leio no corrente da vista e até uns latins arranhei em tempos verdes da infância (...). Digo, modéstia de lado, que já discuti e joguei no assoalho do Foro mais de um doutor formado”. Criado pelo avô, que nele vê "todo o sintoma do povo da política” por ser "invencioneiro e linguarudo”, esse Ponciano com herança e patente de coronel tem na falta de cerimônia o impulso para apoderar-se - como um bom contador de histórias - do que deseja e aventurar-se nas mais estapafúrdias situações, como a caça de uma onça; o namoro com uma sereia; a companhia de um galo de briga e de estimação, o Vermelhinho; a luta contra um lobisomem. Seu poderio na região de Campos de Goitacazes decai com o tempo, à medida que perde seus bens. A paixão por Esmeraldina, mulher casada, nada lhe rende concretamente. Termina enlouquecendo. Essas singulares memórias de um homem que já estaria louco revelam, no conjunto e no saldo negativo dessas aventuras, a inadequação do protagonista - um homem ligado a um mundo rural, autoritário e patriarcal - ao circuito urbano e a um tempo de nova política e novos costumes.

Os méritos de O Coronel e o Lobisomem se devem às construções lingüísticas que o escritor, calculadamente, empregou. Há não apenas deliciosas inserções do folclore brasileiro na trama, mas também o uso de termos e expressões regionais em perfeita harmonia com a narrativa. É curioso notar como já se aproximou este romance de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Em ambas as obras, há um esforço contínuo e bem elaborado de conciliação entre a linguagem do narrador e o universo que ele descreve. A primeira pessoa impregna-se na narrativa. As lembranças dos bordéis freqüentados por Ponciano, as conversas com subalternos, o uso de palavras construídas por prefixos e sufixos inesperados, tudo remete à linguagem falada popular e regional: "Andei vai-não-vai para soltar o ferrão da língua nos costados deles todos, cambada de mariquinhas, magote de assombrados. (...) fui levar (...) os espavoridos de volta ao robalo. E mais: como sou sujeito humanal, levantei o ânimo decaído dele”.

José Cândido de Carvalho nasceu em 1914 em Campos, Rio de Janeiro, e faleceu em 1989, em Niterói. Filho de portugueses que se estabeleceram em Campos de Goitacazes e formado em direito, trabalhou como jornalista em várias publicações. É também autor de Olha para o Céu, Frederico! e Ninguém Mata o Arco-Íris (perfis jornalísticos). Deixou inacabado o romance O Rei Baltazar.


O curupira



Curupira é uma figura do folclore brasileiro. Ele é uma entidade das matas, um anão de cabelos compridos e vermelhos, cuja característica principal são os pés virados para trás.

É um mito bem antigo no Brasil, já citado por José de Anchieta, em 1560.Ele protege a floresta e os animais, espantando os caçadores que não respeitam as leis da natureza, isso é, que não respeitam o período de procriação e amamentação dos animais e que também caçam além do necessário para a sua sobrevivência e lenhadores que fazem derrubada de árvores de forma predatória.

O Curupira solta assovios agudos para assustar e confundir caçadores e lenhadores, além de criar ilusões, até que os malfeitores se percam ou enlouqueçam, no meio da mata. Seus pés virados para trás servem para despistar os caçadores, que ao irem atrás das pegadas, vão na direção errada. Para que isso não aconteça, caçadores e lenhadores costumam suborná-lo com iguarias deixadas em lugares estratégicos. O Curupira, distraído com tais oferendas, esquece-se de suas artes e deixa de dar suas pistas falsas e chamados enganosos.

Sendo mito difundido no Brasil inteiro, suas características variam bastante. Em algumas versões das histórias, o Curupira possui pelos vermelhos e dentes verdes. Em outras versões, têm grandes orelhas ou é totalmente calvo. Pode ou não portar um machado e, em uma versão, chega ser feito do casco de jabuti.